quarta-feira, 30 de julho de 2014

Especialistas avaliam números e separam Copa da economia

Os dados são do Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur): os gastos de turistas estrangeiros no Brasil em junho, quando começou a Copa do Mundo da Fifa, registraram um crescimento de 75,93% na comparação com o mesmo mês de 2013.
Com US$ 797 milhões, a entrada de divisas é um novo recorde mensal desde que o Banco Central começou a calcular essa informação, em 1948. Foram mais de 1 milhão de visitantes durante o mês de realização do mundial. Nos seis primeiros meses deste ano, as divisas estrangeiras somaram US$ 3,479 bilhões, ou seja, 54,36% dos gastos realizados em todo o ano passado, quando atingiram US$ 6,709 bilhões. Na comparação com o primeiro semestre do ano passado, o aumento foi de 4,82% nos gastos de estrangeiros que visitaram o país.
Os valores e índices são bastante atípicos para meses comuns e, em alguns casos, a comparação chega a ser desleal. No entanto, essa guinada temporária poderá ter mexido com os rumos da nossa economia? E o que podemos esperar do pós-copa e do pré-eleição?
“Foram gastos mais de R$ 30 bilhões na Copa ao todo, segundo algumas estimativas do governo: cerca de 7% na segurança pública, 28% para os estádios e o restante para a infraestrutura. No entanto, os estádios, que receberam a maior parte do montante, infelizmente não geram recursos para a economia como um todo”, adianta Nilton Belz, sócio líder da área de Corporate Finance, Transactions & Management da PKFNK.
Por outro lado, ele afirma que a imagem nociva do país com as obras inacabadas ou que não vingaram, falta de segurança e outros fatores, não comprometeram o país. “Tudo ocorreu muito bem e o Brasil não foi comprometido, o que também pode transmitir uma imagem de confiança”.
Mas com o fim do evento pontual e mesmo com a comemoração de alguns setores que se beneficiaram muito no período, Belz alerta que voltamos ao ritmo normal. “Para os negócios, o mês de Copa não foi bom, ficou tudo um pouco parado e agora, as perspectivas de maneira geral não são muito favoráveis. Agora é ‘cair na real’ e trabalhar para melhorar este cenário”, diz.
Belz também comenta que as reações macroeconômicas são normais, de acordo com as medidas que foram adotadas. Por outro lado, somente agora os resultados pesaram para muita gente. “O aumento da taxa Selic no ano passado trouxe um efeito em médio prazo e somente agora as indústrias, os consumidores e empresas estão absorvendo e sentindo no bolso esse aumento, bem como toda a redução da atividade econômica no geral, até para combater a inflação que já chegou ao teto da meta.
Para o analista, a economia está em situação problemática e não tem solução em curtíssimo prazo. E isso nada tem a ver com a Copa do Mundo, que não afetou os números presentes, nem mesmo as perspectivas futuras. “Não existiam expectativas do governo em relação ao evento. Creio que ele foi apenas pensado por sua importância e grandeza, o que naturalmente eleva a autoestima e a imagem do país lá fora, de certa maneira. Houve um planejamento de gastos, mas estes foram muito além do esperado, especialmente nos estádios – que tiveram seu valor dobrado.
Mas, de fato, não foi algo planejado para reativar a economia, mas sim, para alavancar o setor de turismo e demais setores relacionados. Se houvesse um placar relacionado ao nosso desempenho econômico e a Copa em si, ficaríamos mesmo no zero a zero”, complementa.
A atividade industrial permaneceu reduzida, não houve um incremento. A Confederação Nacional da Indústria afirmou, na semana passada, não ter feito nenhuma medição referente ao período de copa, mas os números prévios do mês de julho ainda demonstram certa lentidão.
Instituições mostram-se otimistas com o pós-Copa
Ao contrário dos economistas, os líderes de setores estão um pouco mais otimistas em relação ao pós-Copa. Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, tem previsões positivas em relação ao segundo semestre nas vendas, mesmo sabendo que o período junho/julho foi de avanço acima do esperado.
“Imaginando um cenário conservador, falando em linha branca empatando ou crescendo um pouquinho, e a linha marrom que terá um recuo nos próximos meses, mas que já foi compensado com as vendas no primeiro semestre”, explica.
Para ele, a disputa das urnas pode distrair os potenciais compradores, mas tudo depende de como a economia vai se desenrolar. “As ofertas estarão aí, o varejo fará planos especiais de preços e pagamentos, então nossa expectativa para o segundo semestre é que ele permaneça bastante interessante para a nossa indústria. Temos dificuldades sim, mas acho que é possível superar, nossos produtos ainda têm espaço: 40% dos lares brasileiros ainda comportam lavadoras de roupa, em 5% refrigeradores, em quase todos os lares os fogões, que precisam ser trocados. Podemos não estar muito animados, mas esperamos um resultado melhor que o de 2003”.
Belz disse que o cenário ainda é bastante incerto para cravar resultados. “Não é correto dizer que tudo isso é um efeito Copa. Na verdade, nossa economia já caminhava a passos mais lentos. E até é possível dizer que alguns setores da economia foram bastante favorecidos pelo evento, mas outros sofreram bastante com a paralisação dos negócios em dias de jogos, feriados e similares”, diz.

Fonte: Jornal GGN

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