Filósofo
respeitado, tucano de quatro costados, José Arthur Gianotti deu entrevista
relevadora para o Estadão de hoje (http://tinyurl.com/ng9549o)
em que praticamente sela o fim do PSDB.
O jornal o
apresenta como “tucanoide” (simpatizante) e muito próxima a Fernando Henrique
Cardoso. É muito mais que isso.
Na verdade, sua
amizade maior é com José Serra. É o que explica o fato de considerar Serra
“muito à esquerda” de Geraldo Alckmin e prever que ele será um dos síndicos da
falência do partido. Com um pouco de distanciamento, Gianotti aceitaria que a
pá de cal no PSDB foi a campanha vergonhosa de 2010, que deixou o partido com a
cara abjeta de Serra.
Em relação aos
demais pontos, seu diagnóstico é preciso.
Aliás, o quadro que
desenha é a chamada crônica de uma morte anunciada. Desde 2008 venho apontando
esse quadro de deterioração intelectual do PSDB.
Apenas por amizade,
Gianotti não menciona os responsáveis. É evidente que a responsabilidade maior
recai sobre a pessoa a quem o partido confiou a liderança intelectual e
política: Fernando Henrique Cardoso.
Serra não existiria
sem FHC. A campanha abjeta de 2010 – que liquidou com os resquícios de
legitimação do partido – não existiria sem FHC. Comandado por Serra, o estilo
esgoto do jornalismo tucano foi diretamente estimulado por FHC. Assim como a
debandada de intelectuais tucanos, que poderiam ter contribuído para algum arejamento
do partido, mas que, a partir de um determinado momento, não tiveram estômago
para permanecer na trincheira, depois que o partido deixou-se conduzir pela
ultradireita escatológica.
A partir de então,
o PSDB abandonou qualquer veleidade intelectual. Sua cara ficou sendo a da
agressividade mais vazia, de políticos menores atuando apenas em representações
moralistoides, e do jornalismo de esgoto comandado por Serra.
Aqui, os principais
pontos da entrevista de Gianotti:
Sobre o espaço da
socialdemocracia
Quando o PT veio
para o centro, roubou o discurso da socialdemocracia do PSDB. Tornou-se o
grande interlocutor com as forças capitalistas e populares, que era projeto da
socialdemocracia.
Sobre o espaço da oposição
O PSDB não
conseguiu se viabilizar como oposição organizada. Quando não se tem a oposição
organizada, em geral quem ocupa esse espaço é uma dissidência da própria base
aliada, como ocorreu com Eduardo Campos e Marina Silva, ex-Ministros do governo
Lula.
Porque o PSDB falhou
Porque não teve
discurso. Restará um partido estilhaçado, mas com alguns governadores e
senadores fortes. Aécio ficou com imagem meio ambígua. Agora ele precisa sair
correndo para Minas Gerais para salvar a candidatura que apoia. Não conseguiu
firmar uma liderança realmente decisiva,
O comando do PSDB
Aécio voltará a ser
o que sempre foi: uma liderança do PSDB, mas não mais a ponta da pirâmide.
Ideologicamente, o partido terá duas pontas: o Alckmin bem mais à direita e
Serra bem mais à esquerda.
Sobre Marina, Collor e Jânio
Marina lembra Jânio
e Collor na medida em que vem alguém religiosamente para salvar a pátira e
depois tem uma enorme complicaçãoo na montagem de governo. A Marina não é um
Collor, mas no sistema ela estava isolada. Não soube organizar o pafrtyido
dela, a Rede, foi obrigada a se aliar a Eduardo Campos. Quando o avião cai, ela
se acha predestinada a salvar a pátira e começa com esse discurso. A partir do
desastre, ela lembra Jânio e Collor ao dizer que veio para salvar a pátria.
Sobre o antipetismo e o PSDB
O antipetisnmo está
bem instalado na política brasileira. É hoje uma tremenda força.. Aécio vai
compreender que para fazer o antipetismo é preciso que ele apoie Marina.
Sobre a bancada evangélica
Quando há uma crise
do Estado, os conflitos religiosos aparecem. Quando não há uma estrutura de
poder central organizando a sociedade, Deus aparece como o centralizador. O
avanço evangélico é um sintoma da crise do Estado.
As manifestações de junho
Não formam líderes
porque movimento popular desse tipo é como fogo fátuo. Ele surge e desaparece.
Essas redes sociais são extremamente importantes mas não criam líderes. As
lideranças políticas são, na verdade, formadas pelo processo partidário.
A crise do Estado
Temos uma série
crise de Estado. Uma crise de Estado acontece quando você decide em cima e a
decisão não chega embaixo. E o Estado, desta forma, não funciona. Já yemos uma
crise de decisão. Ela continua se Dilma ou Marina vencerem. Não há esse risco
com Aécio, porque ele não vai ganhar.
Fonte: Jornal GGN
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