Para analisar as chances de Lula ser eleito
secretário-geral da ONU, primeiro é preciso saber como se elege a pessoa para
este cargo. O mecanismo é basicamente que o Conselho de Segurança da ONU deve
indicar um nome e a Assembleia Geral da ONU deve aprová-lo. O Conselho de
Segurança da ONU tem 15 membros, dos quais os cinco membros permanentes
(Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França) têm direito a veto.
Quanto a uma candidatura de Lula, na prática isso significa que a chave para
sua eleição seria que nenhum membro do Conselho de Segurança vetasse seu nome,
uma vez que numericamente, tanto entre os 15 países do Conselho de Segurança
quanto na Assembleia Geral da ONU, Lula dificilmente não conseguiria aprovação.
O mandato do atual secretário-geral da ONU,
Ban Ki-moon, vai até o final de 2016. Assim, a escolha formal de quem vai
sucedê-lo ocorrerá em meados de 2016, daqui a aproximadamente 1 ano e meio. O
mandato é de 5 anos renovável por mais 5, pois apesar de formalmente não haver
um limite de mandatos consecutivos, o limite de dois mandatos tem sido uma
tradição muito forte quanto ao cargo. Assim, os próximos 10 anos do cargo mais
importante da ONU podem estar em jogo, e nesse caso, mesmo 1 ano e meio antes
da decisão final, as negociações quanto às candidaturas já estão ocorrendo com
relativa intensidade.
Uma vez que o desafio principal da eventual
candidatura de Lula seria não ter o veto de nenhum dos cinco membros
permanentes do Conselho de Segurança da ONU, é preciso analisar as condições
políticas de cada um desses cinco membros. É aí que reside a grande
particularidade deste momento histórico que favorece a eleição de Lula. Nos
Estados Unidos, é Barack Obama, do Partido Democrata, e não um presidente do
Partido Republicano, que será o chefe de Estado do país durante todo o processo
de negociação e eleição. Na França, é François Hollande, do Partido Socialista,
que em 2012 venceu Nicolas Sarkozy e encerrou 17 anos seguidos em que os
conservadores estiveram na presidência do país, que será o chefe de Estado no
processo. No Reino Unido, haverá eleições gerais em maio de 2015, e o favorito
para ser eleito primeiro-ministro é o atual líder do Partido Trabalhista, Ed
Miliband, que disputará o cargo com o atual primeiro-ministro do Partido
Conservador, David Cameron. Se Miliband vencer, estará no cargo desde um ano
antes da escolha de próximo secretário-geral da ONU, ou seja, será a liderança
decisiva do Reino Unido quanto à posição do Reino Unido. Na Rússia, o presidente
durante todo o processo será Vladimir Putin, que muito dificilmente vetaria o
nome de Lula, não só pela questão dos BRICS, mas por questões geopolíticas até
mais amplas. Quanto à China, o nome de Lula atenderia a requisitos importantes
do país, como o aumento da inserção da China na economia mundial através das
parcerias globais que o país está estabelecendo com países de todos os
continentes, incluindo fortemente América Latina e África.
E qual é a importância de ser
secretário-geral da ONU? Hoje em dia, há diversos temas de enorme importância
que por sua natureza precisam de uma instância global de administração, porque
afetam necessariamente a todos de uma forma intensamente difusa e
inter-relacionada. Como exemplo posso citar três assuntos, importantíssimos. A
preservação do meio ambiente (dentro da qual se inclui o aquecimento global) a
gestão do armamento nuclear (que tem o potencial de destruir a civilização
humana) e a administração da Internet (pela exponencial interconexão que gera
entre as populações dos países). O mundo precisa de uma ONU que cumpra seu
necessário papel, e por isso um secretário-geral que a faça funcionar com
legitimidade popular e poder institucional relativamente efetivo é fundamental
neste momento da história.
E qual seria o caminho concreto mais
efetivo para que Lula fosse eleito secretário-geral da ONU em 2016?
Obviamente, o próprio Lula teria que
aceitar se candidatar. A única possibilidade disso acontecer me parece que é a
formação de um movimento mundial em torno de seu nome composto de duas
vertentes essenciais: 1) a formação e divulgação de uma lista de mais de 100
chefes de Estado e de governo do mundo apoiando a escolha de Lula como o
próximo secretário-geral da ONU. 2) a expressão, organização e articulação
popular em todo o mundo, especialmente na Internet e particularmente nas redes
sociais, espaços em que os povos da Terra poderão se comunicar e se organizar
mais eficazmente para ajudar a colocar no principal cargo da instituição que é
o embrião do país Planeta Terra uma pessoa que já provou que é capaz de se
tornar o primeiro líder genuinamente mundial da história deste pálido ponto
azul da nossa galáxia.
*Nicolas Chernavsky é jornalista formado
pela Universidade de São Paulo (USP), editor do Cultura Política e colaborador
do Pragmatismo Político
Fonte:
Pragmatismo
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