A
ascensão de Marina Silva (PSB) intensificou o bombardeio de tucanos e petistas
à presidenciável socialista na véspera do primeiro debate na televisão. Os
primeiros questionamentos ocorreram no fim de semana, quando Aécio Neves (PSDB)
e Dilma Rousseff (PT) abordaram a inexperiência administrativa da ex-senadora,
se comparada a uma presidente candidata à reeleição e a um governador eleito
duas vezes seguidas. Mas os ataques prosseguirão questionando outros pontos,
como a falta de um partido forte e o estilo “desagregador” de Marina.
Aécio
ironizou ontem, durante visita ao Saara, centro de comércio popular do centro
do Rio, as declarações dadas pelo economista Eduardo Gianetti da Fonseca de
que, se eleita, Marina pediria ajuda a Fernando Henrique Cardoso e a Luiz
Inácio Lula da Silva para governar. “Fico muito honrado em ver sempre
referências positivas aos nossos quadros. Mas acho que o que vai prevalecer é o
software original. Quem vai governar é o PSDB com os seus aliados e,
obviamente, com figuras qualificadas, sem partido e de outras forças
políticas”, afirmou Aécio.
Ele
também desdenhou a possibilidade de crescimento de Marina nas pesquisas — o
coordenador-geral da campanha do PSB, Márcio França afirmou que os novos
resultados serão “avassaladores”. Para Aécio, a socialista embarcou em uma onda
de comoção de curta duração. Ele garantiu que, dentro de 15 ou 20 dias,
aparecerá em segundo lugar isolado nas pesquisas de intenções de voto. E aposta
que o quadro para a disputa presidencial começará a se definir a partir de 15
de setembro.
Dilma,
que já questionara no domingo as declarações de Marina, ao afirmar que um
presidente que não se preocupar com a gestão está querendo ser a rainha da
Inglaterra, aproveitou ontem, ao responder uma pergunta sobre atraso no
pagamento de obras do PAC, para criticar novamente a adversária, sem citar o
nome dela. “A atividade de presidente da República não é uma atividade que seja
lateral ele gerir. É intríseco ao presidente da República se preocupar com
gestão, porque se ele não se preocupar com a gestão, esse presidente está
querendo ser rei ou rainha da Inglaterra”, disse.
A
nova estratégia de ataque conjunto à ex-ministra ministra do Meio Ambiente é
motivada por razões diferentes. Os tucanos querem conter o crescimento de
Marina e evitar que ela, e não Aécio Neves (PSDB), chegue ao segundo turno. Já
os petistas estão tensos porque os primeiros números divulgados mostram que
Marina venceria Dilma Rousseff em um eventual segundo turno, encerrando a
hegemonia do PT no Palácio do Planalto que já dura 12 anos.
Caixa dois
Os
adversários de Marina também cobram explicações sobre o avião alugado pela
campanha socialista e que matou Eduardo Campos. Desde sexta-feira, Aécio
começou a dizer que “homens públicos têm de estar preparados para dar
explicações cobradas pela sociedade”. A Polícia Federal abriu investigação para
apurar denúncias de que a aeronave teria sido paga por caixa dois empresarial
ou do próprio PSB. Marina prometeu que a legenda daria explicações sobre o caso
hoje.
Mas
a candidata socialista é questionada por outras coisas, mais relacionadas ao
aspecto político. Além da inexperiência administrativa — foi ministra do Meio
Ambiente por cinco anos e meio e senadora pelo PT —, Marina é vista pelos seus
contendores como alguém com estilo político desagregador, como seria comprovada
pela própria trajetória dela.
Em
2008, Marina deixou o cargo de ministra por divergências com a então chefe da
Casa Civil, Dilma Rousseff, e o então ministro da Secretaria de Assuntos
Estratégicos (SAE), Mangabeira Unger. Um ano depois, para concretizar o projeto
de concorrer ao Planalto em 2010, ela deixou o PT e filiou-se ao PV. “O que
aconteceu? Marina perdeu a eleição e deixou o PV em 2011, alegando divergências
internas com a cúpula do partido que a havia abrigado”, disse um parlamentar
petista.
Marina
tentou, sem sucesso, criar a Rede Sustentabilidade, mas teve o registro negado
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Marina nem sequer conseguiu montar o
próprio partido. Migrou para o PSB e, tão logo foi indicada candidata no lugar
de Eduardo, todos os socialistas que ocupavam o comando de campanha pediram
para sair”, completou o militante do PT.
A
chegada da candidata do PSB também causa apreensão em experientes
interlocutores do cenário nacional. Estrategistas da campanha de Aécio Neves
(PSDB) afirmam que, se eleita, Marina não têm quadros técnicos e políticos para
governar um país que atravessa um momento dramático na economia e tampouco base
parlamentar para aprovar as mudanças na legislação brasileira.
Marina,
que ontem fez campanha na Bienal do Livro, em São Paulo, admitiu que o momento
será de responder aos ataques feitos pelos adversários. “Essa é uma campanha na
qual vamos ter que oferecer a outra face. Vamos oferecer a outra face e
caminhar com sabedoria”, garantiu ela.
Fonte: Correio Braziliense
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