A frase atribuída ao nazista Joseph
Goebbels -uma mentira repetida mil vezes se transforma em verdade- tem sido a
resposta preferida do candidato Aécio Neves e sua equipe diante de críticas. O
problema é quando a verdade, repetida mil vezes, continua sendo verdade, sem
contraponto ou contraditório capaz de desmenti-la.
O candidato tucano construiu uma pista de
pouso em propriedade familiar. A chave da mordomia ficava na mão de parentes,
os quais, aliás, ele empregou aos montes. Tudo documentado. Nenhum estudo,
mesmo fabricado às pressas, provou a necessidade da obra. Isso não é uma
questão íntima. É dinheiro público queimado para fins pessoais. Existe uma ação
em curso, por improbidade administrativa. É um fato, não depoimento selecionado
de delação desesperada, desculpe, premiada.
O governo de Minas destinou uma gorda fatia
de publicidade para empresas de telecomunicações dos Neves. Nem o candidato
nega. É deselegante perguntar como o rapaz lida quando se encontram o público e
o privado? Cabe aos brasileiros descobrir o montante, pois envolve gente
disputando a Presidência. "Não registramos quanto foi gasto", respondem
o tucano e seu staff.
Documentos do Tribunal de Contas de Minas
Gerais apontavam suspeitas de irregularidades no governo do atual senador. A
capivara foi citada durante um dos debates. Horas depois, a papelada
desapareceu do site oficial do tribunal, uma instância pública (!). Tomou
Doril. Sumiu. E nada se faz a respeito.
O drible no bafômetro e outros momentos
pouco edificantes da rotina noturna do senador estão fartamente documentados na
internet e imprensa escrita. Não são montagem, assim como não é falso o
stand-up daquele artista de fim de noite que relacionou Maradona e Aécio quanto
ao consumo de drogas. Hoje o mesmo personagem posa de aecista desde criancinha.
Mas nunca desmentiu a performance.
Balela a história de que trazer a público
tudo isso é baixaria etc, etc. Isso é falta de argumento de quem não tem
resposta.
Pense bem: quantas vezes já não deparamos
com indivíduos brilhantes (o que não é propriamente o caso...), mas com uma
trajetória errática, que seríamos incapazes de indicar para uma função, mesmo
menor, numa empresa? Não há nisso preconceito nenhum; somente o desejo de saber
qual é a pessoa certa para o lugar certo.
"Ah, mas e os programas, as
propostas?", indagam os puritanos habituais. Bem, todos conhecem o que
pensam tanto Dilma quanto Aécio e seu braço direito, Armínio Fraga.
A primeira pelo que ela e seu partido
fizeram nos últimos tempos no Planalto. Aécio, pelo que ele e sua equipe
revelam em entrevistas e jantares. Coisas como corte de gastos sociais,
esvaziamento de bancos públicos, encolhimento de salários, facão nas empresas,
tarifaço, mudança nas leis trabalhistas e por aí vai. As tais medidas
impopulares. Para ele, sem isto o Brasil vai piorar. Acredite quem quiser.
Com a campanha perto do fim, supostas
regras de etiqueta surgem para esconder o essencial. Cortina de fumaça. Estão
em jogo a vida e o futuro de milhões de pessoas. Elas têm todo o direito de
conhecer quem pretende ocupar o cargo mais alto da República.
Pesquisas são só pesquisas. A depender
delas, o PT não teria ganho no primeiro turno na Bahia e em Minas Gerais, Aécio
não teria os votos obtidos em São Paulo, e o PMDB estaria fora do segundo turno
no Rio Grande do Sul.
A questão não é satanizar institutos. É dar
aos seus levantamentos o peso que merecem. Mais do que nunca, o primeiro turno
mostrou que a palavra final é do eleitor, não de pesquisados. Da mesma forma
que é patética a tática de carimbar como mentiras verdades inapagáveis,
registradas em vídeo, áudio e folhas de papel.
Fonte:
Folha de S.Paulo
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