sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Com Lula, PT encerra campanha distribuindo flores e pregando unidade das esquerdas

A campanha pela reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT) realizou, no início da tarde de hoje (24), seu último ato oficial em São Paulo: com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sindicalistas, movimentos sociais e simpatizantes do PT fizeram uma caminhada da Praça do Patriarca à Praça da Sé, no centro da capital. Com o calçadão lotado e muitas bandeiras nas janelas dos prédios, comerciantes e clientes abandonaram as lojas para tentar fotografar Lula e as lideranças partidárias que percorreram o trajeto em um carro aberto – compareceram ao ato a ministra da Secretaria Especial para as Mulheres do governo federal, Eleonora Menicucci, o prefeito e a vice-prefeita de São Paulo, Fernando Haddad (PT) e Nádia Campeão (PCdoB), o candidato a governador de São Paulo pelo PT em 2014, Alexandre Padilha, e o senador Eduardo Suplicy (PT).
O tema central da caminhada foi a paz: com flores para serem distribuídas às pessoas no calçadão, militantes insistiram em comparar os projetos e rechaçar os episódios de intolerância e violência protagonizados por eleitores de Aécio Neves (PSDB), que têm avançado de forma agressiva contra partidários da atual presidenta. "Temos de estar muito tranquilos, usar sempre nossos adesivos, discutir projetos e não cair em provocação. Vamos falar com as pessoas e certamente, no domingo, dar mais um show de democracia", afirmou Lula, de um caminhão de som na praça da Sé.
Não houve discursos para pedir votos: a lei eleitoral permite atos públicos como o de hoje, mas veta, até domingo, falas públicas para disputar a vontade dos eleitores. Esse papel acabou desempenhado no corpo a corpo das militâncias do Levante Popular da Juventude, que levou uma bateria de mulheres ao ato, do Movimento dos Atingidos por Barragens, do Movimento dos Sem-Teto do Centro (MTSC), da CUT e de militantes dos partidos da coligação de Dilma, além de filiados e simpatizantes de partidos de esquerda que, embora críticos à política realizada pelo PT nos 12 anos de governo federal, estão unidos contra o retorno do PSDB à presidência.
"Encerrada a eleição, reeleita a Dilma, essa unidade tem que continuar", elogiou o deputado federal Paulo Teixeira (PT). "O tucanos vão continuar com o discurso agressivo que adotaram na campanha até agora, e nós temos de manter o diálogo do lado de cá, estar preparados para o enfrentamento, e seguir adiante com um projeto de mudanças", afirmou.
Ex-prefeito de Diadema, Mário Reali (PT) também defendeu o aprofundamento da unidade das esquerdas. "O governo federal é sempre para todos, até, por exemplo, para o capital industrial, mas nós temos lado e somos de esquerda. Temos de avançar na unidade e nas mudanças necessárias para o país", afirmou. Reali acredita ainda que acabou a validade da Carta ao Povo Brasileiro, assinada por lula em 2002 como compromisso com a direita brasileira de que não haveria ruptura integral com o capitalismo ao longo do governo petista. "Foram feitas concessões no primeiro governo Lula que já tiveram seu efeito, e agora a situação é outra. Agora nós precisamos aplicar, de fato, integralmente, as bases de um estado de bem-estar social", disse.
"Eles dizem que nós queremos dividir o Brasil, mas essa divisão, que hoje é visível nas urnas graças aos governos do PT, sempre existiu: é a luta de classes. E cabe, a todos nós, estar ao lado da classe trabalhadora", concluiu.
O presidente estadual do PT, Emídio de Souza, reafirmou que esse será o "maior desafio" para o partido a partir de 2015. "Será nosso maior desafio, nossa maior missão, não deixar desaparecer esta unidade, que será importante para podermos governar nos próximos quatro anos", resumiu, ressaltando que será necessário manter diálogo inclusive com partidos de esquerda que têm uma relação mais "passional" com o PT, como o Psol, que surgiu de dissidência do partido e manteve postura dura contra o PT desde sua fundação, em 2006. Esta eleição, que contou com apoio a Dilma de lideranças nacionais do Psol, como os deputados Jean Wyllys e Marcelo Freixo e o filósofo Vladimir Safatle, foi a primeira vez em que os partidos se unem, ainda que extraoficialmente, em uma disputa eleitoral.
Além do início de um novo governo, caso a presidenta Dilma se reeleja neste domingo (26), Os próximos anos marcam ainda outro evento importante para o PT: o Processo de Eleições Diretas (PED), votação entre a militância que define os presidentes dos diretórios municipais, estaduais e nacional do partido, além da composição das executivas dos diretórios. A eleição interna ocorre em 2016, na metade de um eventual segundo mandato de Dilma.
As chapas para as eleições acompanham a orientação ideológica das tendências internas do PT, que variam da centro-esquerda a posições socialistas revolucionárias: com horizonte de intensificação de diálogo com outras esquerdas e a intenção de realizar um segundo mandato mais progressista com Dilma, tendências mais à esquerda podem ver crescer seu papel de decisão dentro do partido.
"Não temos dúvidas de que o partido tem de estar à altura do diálogo que pretende manter com as esquerdas e do governo progressista que quer fazer", ponderou Teixeira, que foi candidato a presidente nacional do partido pela corrente Mensagem em 2013. Naquela eleição, Rui Falcão foi reeleito presidente nacional da sigla pela corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), principal força interna do PT, à qual pertence o ex-presidente Lula e que é considerada a posição de "centro" do partido. Ideologicamente, a CNB dá maior ênfase à negociação e à mediação de conflitos com a direita.
O deputado ressaltou, no entanto, que "ainda é cedo" para fazer previsões sobre uma possível guinada "ainda mais à esquerda" do PT.

Fonte: Blog do Inaldo Sampaio

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