A campanha pela reeleição da presidenta
Dilma Rousseff (PT) realizou, no início da tarde de hoje (24), seu último ato
oficial em São Paulo: com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), sindicalistas, movimentos sociais e simpatizantes do PT fizeram uma
caminhada da Praça do Patriarca à Praça da Sé, no centro da capital. Com o
calçadão lotado e muitas bandeiras nas janelas dos prédios, comerciantes e
clientes abandonaram as lojas para tentar fotografar Lula e as lideranças
partidárias que percorreram o trajeto em um carro aberto – compareceram ao ato a
ministra da Secretaria Especial para as Mulheres do governo federal, Eleonora
Menicucci, o prefeito e a vice-prefeita de São Paulo, Fernando Haddad (PT) e
Nádia Campeão (PCdoB), o candidato a governador de São Paulo pelo PT em 2014,
Alexandre Padilha, e o senador Eduardo Suplicy (PT).
O tema central da caminhada foi a paz: com
flores para serem distribuídas às pessoas no calçadão, militantes insistiram em
comparar os projetos e rechaçar os episódios de intolerância e violência
protagonizados por eleitores de Aécio Neves (PSDB), que têm avançado de forma
agressiva contra partidários da atual presidenta. "Temos de estar muito
tranquilos, usar sempre nossos adesivos, discutir projetos e não cair em
provocação. Vamos falar com as pessoas e certamente, no domingo, dar mais um
show de democracia", afirmou Lula, de um caminhão de som na praça da Sé.
Não houve discursos para pedir votos: a lei
eleitoral permite atos públicos como o de hoje, mas veta, até domingo, falas
públicas para disputar a vontade dos eleitores. Esse papel acabou desempenhado
no corpo a corpo das militâncias do Levante Popular da Juventude, que levou uma
bateria de mulheres ao ato, do Movimento dos Atingidos por Barragens, do
Movimento dos Sem-Teto do Centro (MTSC), da CUT e de militantes dos partidos da
coligação de Dilma, além de filiados e simpatizantes de partidos de esquerda
que, embora críticos à política realizada pelo PT nos 12 anos de governo
federal, estão unidos contra o retorno do PSDB à presidência.
"Encerrada a eleição, reeleita a
Dilma, essa unidade tem que continuar", elogiou o deputado federal Paulo
Teixeira (PT). "O tucanos vão continuar com o discurso agressivo que
adotaram na campanha até agora, e nós temos de manter o diálogo do lado de cá,
estar preparados para o enfrentamento, e seguir adiante com um projeto de
mudanças", afirmou.
Ex-prefeito de Diadema, Mário Reali (PT)
também defendeu o aprofundamento da unidade das esquerdas. "O governo
federal é sempre para todos, até, por exemplo, para o capital industrial, mas
nós temos lado e somos de esquerda. Temos de avançar na unidade e nas mudanças
necessárias para o país", afirmou. Reali acredita ainda que acabou a
validade da Carta ao Povo Brasileiro, assinada por lula em 2002 como
compromisso com a direita brasileira de que não haveria ruptura integral com o
capitalismo ao longo do governo petista. "Foram feitas concessões no
primeiro governo Lula que já tiveram seu efeito, e agora a situação é outra.
Agora nós precisamos aplicar, de fato, integralmente, as bases de um estado de
bem-estar social", disse.
"Eles dizem que nós queremos dividir o
Brasil, mas essa divisão, que hoje é visível nas urnas graças aos governos do
PT, sempre existiu: é a luta de classes. E cabe, a todos nós, estar ao lado da
classe trabalhadora", concluiu.
O presidente estadual do PT, Emídio de
Souza, reafirmou que esse será o "maior desafio" para o partido a
partir de 2015. "Será nosso maior desafio, nossa maior missão, não deixar
desaparecer esta unidade, que será importante para podermos governar nos próximos
quatro anos", resumiu, ressaltando que será necessário manter diálogo
inclusive com partidos de esquerda que têm uma relação mais
"passional" com o PT, como o Psol, que surgiu de dissidência do
partido e manteve postura dura contra o PT desde sua fundação, em 2006. Esta
eleição, que contou com apoio a Dilma de lideranças nacionais do Psol, como os
deputados Jean Wyllys e Marcelo Freixo e o filósofo Vladimir Safatle, foi a
primeira vez em que os partidos se unem, ainda que extraoficialmente, em uma disputa
eleitoral.
Além do início de um novo governo, caso a
presidenta Dilma se reeleja neste domingo (26), Os próximos anos marcam ainda
outro evento importante para o PT: o Processo de Eleições Diretas (PED),
votação entre a militância que define os presidentes dos diretórios municipais,
estaduais e nacional do partido, além da composição das executivas dos
diretórios. A eleição interna ocorre em 2016, na metade de um eventual segundo
mandato de Dilma.
As chapas para as eleições acompanham a
orientação ideológica das tendências internas do PT, que variam da
centro-esquerda a posições socialistas revolucionárias: com horizonte de
intensificação de diálogo com outras esquerdas e a intenção de realizar um
segundo mandato mais progressista com Dilma, tendências mais à esquerda podem
ver crescer seu papel de decisão dentro do partido.
"Não temos dúvidas de que o partido
tem de estar à altura do diálogo que pretende manter com as esquerdas e do
governo progressista que quer fazer", ponderou Teixeira, que foi candidato
a presidente nacional do partido pela corrente Mensagem em 2013. Naquela
eleição, Rui Falcão foi reeleito presidente nacional da sigla pela corrente
Construindo um Novo Brasil (CNB), principal força interna do PT, à qual
pertence o ex-presidente Lula e que é considerada a posição de
"centro" do partido. Ideologicamente, a CNB dá maior ênfase à
negociação e à mediação de conflitos com a direita.
O deputado ressaltou, no entanto, que
"ainda é cedo" para fazer previsões sobre uma possível guinada
"ainda mais à esquerda" do PT.
Fonte: Blog
do Inaldo Sampaio
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