Se Dilma ganhar, essa eleição vai
significar também a vingança de Getúlio Vargas contra o “lacerdismo”.
Sei que o tempo presente nos chama. Mas um
pouco de História vai bem. Na verdade, vou falar de um passado que é
presente…
Vocês sabem que Carlos Lacerda (foto ao
lado) foi o governador do Rio (e jornalista, e dono de jornal) que fazia
oposição violenta contra Getúlio Vargas e o trabalhismo – isso tudo lá nos anos
1950 e 1960.
Chamado de “O Corvo” pelos getulistas,
Lacerda era bancado pelos EUA. E tinha apoio de uma classe média furiosa com os
direitos trabalhistas, com a criação da Petrobrás e com a entrada em cena da
“ralé” (que passava a definir eleições – votando em Vargas ou nos candidatos
apoiados por ele).
Qual era o discurso de Lacerda? Vargas
seria um “corrupto”, um “bandido comandando uma quadrilha”.
Isso lembra alguma coisa a vocês?
Em 1954, o cerco se apertou. A imprensa
passou a falar em “Mar de Lama” no governo. Vargas foi cercado no palácio. E
num gesto dramático (esse papo de que no Brasil não há conflitos, e de que tudo
se resolve “na boa”, é balela!) o presidente meteu uma bala no peito.
Ali, Vargas virou o jogo. O povão que
começava a ser influenciado pela campanha midiática anti-Vargas, ficou do lado
do morto.
Não preciso dizer que “O Globo” e quase
toda a imprensa estavam ao lado de Lacerda contra Vargas. O povão queimou carros
e gráfica da família Marinho em 1954 – pra se vingar.
Pois bem, o conservadorismo brasileiro é
tão pouco criativo que nem disfarça.
Saltemos ao século XXI… Em 2006 (quando o
PSDB imaginava que Lula seria derrotado fragorosamente graças ao “Mensalão”),
FHC lamentava “a falta que faz um Carlos Lacerda para tocar fogo no palheiro”
(leia aqui).
Na falta de um Lacerda de verdade, o PSDB
terceirizou (eles são bons nisso): surgiram dezenas de lacerdinhas nos jornais,
rádios, TVs e na revista da marginal. São blogueiros e jornalistas que fazem a
agitação verbal para o PSDB – reproduzindo o mesmo discurso que hoje escutamos
nas ruas: “o PT é uma quadrilha que precisa ser escorraçada”.
Na campanha de 2014, Aécio Neves surfa
nessa onda. Aproveita também os erros do PT e – sem programa que não seja
arrocho e desemprego – Aécio tenta ganhar a eleição no grito: “Fora, PT”,
“abaixo a corrupção”.
No debate da Band, qual foi a grande
“sacada’ de Aécio? Dizer que o Brasil vive um “Mar de Lama”.
Hehe… É a mesma palavra de ordem dos que
levaram Vargas ao suicídio em 1954. A direita é a mesma.
Só que Dilma não vai meter bala no coração.
Não. Dilma disparou de volta, na testa de Aécio.
O rapaz mineiro (que fala em meritocracia,
mas vive do que herdou da família) ficou atônito quando Dilma falou nos casos
de corrupção do PSDB, e falou no episódio do aeroporto construído dentro da
fazenda de um tio de Aécio. Falou também dos casos de nepotismo (Aécio empregou
meia dúzia de parentes no governo de Minas).
O rapaz perdeu o rebolado.
Se Aécio fosse um monge budista, ainda
assim esse discurso moralista de que “todo o problema do Brasil é a corrupção”
não faria sentido (e a desigualdade? e o racismo? e a violência policial? e o
poder do sistema financeiro? e o poder da Globo? Nada disso importa, né…).
Mas pior: Aécio não tem moral pra falar em
corrupção. Nem em bons costumes. Ele é o típico falso moralista – acusado até
de bater na mulher.
Aécio foi desmascarado por Dilma no debate
da Band.
Verdade que o “Mar de Lama” de Aécio foi
parar na capa do “Estadão”. O combalido diário paulistano vibrou: a Família
Mesquita (dona do jornal, apesar de endividada) deve ter achado que voltaram os
bons tempos: uma manchete com cheiro de anos 50 - lembrou-me @pedrozm / Pedro
Malavolta via twitter (a mensagem dele foi a inspiração para esse textos).
Com seu “Mar de Lama”, Aécio cheira (ôps) a
naftalina. É o passado que volta à cena, com um terno bonitinho e sotaque
mineiro.
E o passado precisa ser derrotado de vez.
Dilma, como venho dizendo desde 2010,
significa o (re) encontro do PT com o varguismo. Dilma traz a herança
brizolista, trabalhista, foi do velho PDT. Ela se formou nessa tradição.
Se Dilma ganhar (e tem toda as condições
pra isso, numa batalha que será duríssima), será a vitória de Vargas contra
Lacerda. Só que dessa vez o tiro será disparado contra o outro lado.
Um tiro no lacerdismo rastaquera de Aécio,
com seus aeroportos feitos em fazendas da família, com seus parentes no
governo, com sua irmãzinha que tenta calar a imprensa.
Lacerda ainda tinha estilo. Aécio só tem a
Globo, a Veja e seus lacerdinhas amestrados.
Fonte:
Jornal GGN
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