O Ministério Público Federal em Minas
Gerais decidiu abrir investigação para apurar se o presidenciável Aécio Neves
(PSDB) cometeu irregularidades ao utilizar recursos públicos para construir um
aeroporto numa área desapropriada dentro da fazenda de seu tio-avô em Cláudio,
no interior do Estado.
Erguido nas terras de Múcio Guimarães
Tolentino, a 6 km do refúgio preferido de Aécio, a Fazenda da Mata, de sua
família, o aeródromo custou R$ 14 milhões e foi feito no final do segundo
mandato do tucano no governo mineiro.
A Folha revelou o caso em julho. O
aeroporto, que operava sem homologação da Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil), tinha uso privado. As chaves do local ficavam em poder dos familiares
de Aécio, que precisavam ser consultados para liberar a utilização da pista.
No início deste mês, o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, arquivou a parte criminal de uma representação do PT
contra Aécio pela construção do aeroporto, mas ele determinou que a
representação fosse encaminhada ao MPF de Minas Gerais para a avaliação de
casos de improbidade administrativa.
A investigação foi aberta no último dia 17
na Procuradoria da República de Divinópolis (a 50 km de Cláudio) para
"apurar possível irregularidades na utilização de recursos públicos pelo
então governador de Minas, Aécio Neves da Cunha, para a construção de um
aeródromo em propriedade de seu tio-avô, sr. Múcio Guimarães Tolentino".
Dono do terreno onde o aeroporto foi
construído e da fazenda Santa Izabel, ao lado da pista, Múcio é irmão da avó de
Aécio, Risoleta Tolentino Neves (1917-2003), que foi casada por 47 anos com
Tancredo Neves (1910-1985)
Nos anos 1980, quando Múcio era prefeito de
Cláudio e Tancredo o governador de Minas, uma pista de terra foi erguida no
mesmo local. O terreno, que deveria ter sido repassado para a prefeitura de
Cláudio, nunca saiu do nome do tio-avô do presidenciável.
Anos depois, o governo de Aécio abriu
licitação e desapropriou o terreno para então construir o aeroporto. Ao
escolher uma propriedade do tio para fazer a obra, o governo de Minas abriu
caminho para que Múcio, 88, resolva uma pendência judicial que se arrasta há
mais de uma década. Ele é réu numa ação do Ministério Público Estadual que
tenta recuperar o dinheiro gasto pelo Estado na construção da pista de terra.
Para garantir o ressarcimento dos cofres
públicos em caso de condenação, a Justiça mandou bloquear a área em 2001, o que
impede Múcio de vendê-la. Com a desapropriação, Múcio ganhou o direito de
receber do Estado pelo menos R$ 1 milhão de indenização, mas ele pede valor
nove vezes maior.
Aécio nega que a obra tenha beneficiado
seus familiares e afirma que o aeródromo contribuiu para o desenvolvimento de
Cláudio, cidade de 30 mil habitantes.
O tucano também alega que a construção do
aeroporto já foi alvo de investigação pelo Ministério Público Estadual, que não
encontrou nenhuma irregularidade. Essa apuração, contudo, não levou em conta
que a obra foi feita numa área desapropriada pelo Estado na terra de um parente
do então governador.
Em julho, logo após a publicação da
reportagem pela Folha, a Promotoria estadual decidiu apurar novamente a
construção do aeroporto de Cláudio.
Fonte:
Folha de S.Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário