A executiva nacional do PSB se reúne nesta
quarta-feira em Brasília para definir os rumos do partido neste segundo turno.
A tendência é que a sigla pela qual Marina Silva disputou a Presidência da
República se mantenha dividida entre os que preferem apoiar o tucano Aécio Neves
e a presidente Dilma Rousseff (PT). Esta não é, porém, a única indefinição na
base da ex-senadora. Além da divisão no PSB, Marina tem de lidar com as
divergências em seu grupo político, a Rede Sustentabilidade: embora o
"quase partido" dê sinais apoio a Aécio, ainda há resistência
interna sobre aderir à candidatura do tucano. Marina já deu sinais de que deve
apoiar o candidato do PSDB – e não se manter neutra, como quando disputou a
Presidência da República pelo PV, em 2010. Sua decisão oficial, porém, só será
conhecida na quinta-feira. Também nesta quarta os demais partidos da coligação
que apoiou sua candidatura definirão seu futuro. Até agora, apenas o PPS
declarou apoio formal a Aécio.
Membros da executiva do PSB consultados
pelo site de VEJA acreditam que a opção do partido nesta quarta deve ser
pela “neutralidade”, abrindo espaço para que cada um dos membros defina quem
apoia. Essa possibilidade foi indicada pelo próprio presidente do PSB, Roberto
Amaral, em visita a Marina na segunda. Walter Feldman, um dos aliados mais
próximos à ex-senadora, relatou o teor da conversa. “Amaral disse que a
tendência é de não ter unidade de apoio a um ou outro candidato, o que talvez
leve o partido a liberar seus membros para decisão individual. Mas, isto não
está claro”, afirmou.
A tendência é de que nomes do PSB das
regiões Sul e Sudeste votem pelo apoio a Aécio. Outra ala do partido que optará
pelo tucano é a de Pernambuco, Estado de Eduardo Campos, ex-cabeça de chapa do
partido na disputa pelo Planalto, morto em acidente aéreo em 13 de agosto. O
PSB de Pernambuco elegeu o maior número de deputados federais do partido, oito
no total. Foi também onde a sigla emplacou o governador mais bem votado do
país, Paulo Câmara, eleito em primeiro turno com acachapantes 68% dos votos. O
Estado elegeu ainda Fernando Bezerra Coelho ao Senado e foi um dos dois únicos
em que Marina venceu a disputa presidencial, além do Acre, terra natal da
ex-senadora.
Divergências - Há, contudo, focos de
resistência ao apoio a Aécio nos Estados da Paraíba e do Amapá, onde dois
candidatos do PSB disputam o segundo turno. No caso da Paraíba, o candidato à
reeleição, Ricardo Coutinho, concorre com o tucano Cássio Cunha Lima. O PT
tenta fazer uma ofensiva no Estado para formar uma aliança com o PSB. Nesta
quarta, a presidente Dilma tem agendadas duas agendas na Paraíba: uma na
capital João Pessoa e outra em Campina Grande, as duas principais cidades do
Estado. A presença da petista é vista como uma tentativa de "marcar
território". No Amapá, Camilo Capiberibe concorre à reeleição contra
Waldez Góes (PDT). O pessebista está na mesma coligação que o PT no
Estado, e tende a votar a favor de uma aliança com Dilma. Tanto Coutinho quanto
Capiberibe são membros da executiva nacional, da qual também faz parte João
Capiberibe, pai de Camilo. O presidente nacional da sigla, Roberto Amaral,
também é visto como um entrave ao apoio a Aécio, devido ao seu alinhamento
histórico com o PT.
Na segunda-feira, uma reunião em Recife
referendou o apoio ao PSDB, partido com o qual o PSB está coligado no Estado. A
decisão teve o aval de Renata Campos, viúva de Eduardo. No dia seguinte, Marina
recebeu em São Paulo a visita de nomes importantes do PSB pernambucano, como o
governador João Lyra Neto, o presidente estadual da sigla, Sileno Guedes, o
prefeito do Recife, Geraldo Júlio, além dos eleitos Câmara e Bezerra Coelho.
Durante o encontro, eles trataram do apoio a Aécio Neves, que ligou para os
pessebistas na segunda-feira.
Rede - Marina encontra resistências também
entre os membros da Rede Sustentabilidade, partido idealizado por ela que não conseguiu
se registrar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na noite de terça, a
executiva da Rede promoveu uma discussão sobre o apoio. Ao fim de quatro horas,
o grupo chegou ao acordo de apenas dizer “não à continuidade do atual governo”.
Um documento foi criado após as discussões e será encaminhado ao diretório da
Rede, composto por 120 pessoas, que fará uma nova rodada de conversas na noite
desta quarta. Walter Feldman, porta-voz nacional da Rede, admitiu que há
resistência em apoiar o nome do tucano. “Nós queremos uma mudança, porém
qualificada. Tem que dar substância ao nosso conteúdo”, afirma, indicando que é
necessário haver sinalizações do tucano com o programa de governo apresentando
por Marina. “A resistência vem, fundamentalmente, da estrutura de polarização.
Alguns consideram que os ataques a Marina também foram muito pesados por parte
do PSDB. E consideram que, do ponto de vista social, o PSDB não tem mostrado
vigor em relação às políticas que a Rede considera necessárias. São
questionamentos que dificultam a definição do apoio ao Aécio”, admite.
O aliado de Marina deu sinais, contudo, de
que o que deve prevalecer no pronunciamento de quinta é o desejo da
ex-candidata. “Ela é, na verdade, uma candidata da coligação. Claro que ela tem
uma origem na Rede, mas ela foi colocada como candidata da coligação e vai se
pronunciar como tal”. Ainda que PSB e Rede optem pela neutralidade, é possível,
portanto, que Marina declare apoio em uma posição individual. Aliados avaliam
que manter-se neutra não seria a decisão política mais indicada para a
ex-senadora. E, em seu discurso no domingo, Marina já deu sinais de que deve
optar por Aécio.
Fonte: Veja
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