quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Aliados se dividem e Marina encontra resistências ao apoio a Aécio

A executiva nacional do PSB se reúne nesta quarta-feira em Brasília para definir os rumos do partido neste segundo turno. A tendência é que a sigla pela qual Marina Silva disputou a Presidência da República se mantenha dividida entre os que preferem apoiar o tucano Aécio Neves e a presidente Dilma Rousseff (PT). Esta não é, porém, a única indefinição na base da ex-senadora. Além da divisão no PSB, Marina tem de lidar com as divergências em seu grupo político, a Rede Sustentabilidade: embora o "quase partido" dê sinais apoio a Aécio, ainda há resistência interna sobre aderir à candidatura do tucano. Marina já deu sinais de que deve apoiar o candidato do PSDB – e não se manter neutra, como quando disputou a Presidência da República pelo PV, em 2010. Sua decisão oficial, porém, só será conhecida na quinta-feira. Também nesta quarta os demais partidos da coligação que apoiou sua candidatura definirão seu futuro. Até agora, apenas o PPS declarou apoio formal a Aécio.
Membros da executiva do PSB consultados pelo site de VEJA acreditam que a opção do partido nesta quarta deve ser pela “neutralidade”, abrindo espaço para que cada um dos membros defina quem apoia. Essa possibilidade foi indicada pelo próprio presidente do PSB, Roberto Amaral, em visita a Marina na segunda. Walter Feldman, um dos aliados mais próximos à ex-senadora, relatou o teor da conversa. “Amaral disse que a tendência é de não ter unidade de apoio a um ou outro candidato, o que talvez leve o partido a liberar seus membros para decisão individual. Mas, isto não está claro”, afirmou.
A tendência é de que nomes do PSB das regiões Sul e Sudeste votem pelo apoio a Aécio. Outra ala do partido que optará pelo tucano é a de Pernambuco, Estado de Eduardo Campos, ex-cabeça de chapa do partido na disputa pelo Planalto, morto em acidente aéreo em 13 de agosto. O PSB de Pernambuco elegeu o maior número de deputados federais do partido, oito no total. Foi também onde a sigla emplacou o governador mais bem votado do país, Paulo Câmara, eleito em primeiro turno com acachapantes 68% dos votos. O Estado elegeu ainda Fernando Bezerra Coelho ao Senado e foi um dos dois únicos em que Marina venceu a disputa presidencial, além do Acre, terra natal da ex-senadora.
Divergências - Há, contudo, focos de resistência ao apoio a Aécio nos Estados da Paraíba e do Amapá, onde dois candidatos do PSB disputam o segundo turno. No caso da Paraíba, o candidato à reeleição, Ricardo Coutinho, concorre com o tucano Cássio Cunha Lima. O PT tenta fazer uma ofensiva no Estado para formar uma aliança com o PSB. Nesta quarta, a presidente Dilma tem agendadas duas agendas na Paraíba: uma na capital João Pessoa e outra em Campina Grande, as duas principais cidades do Estado. A presença da petista é vista como uma tentativa de "marcar território". No Amapá, Camilo Capiberibe concorre à reeleição contra Waldez Góes (PDT). O pessebista está na mesma coligação que o PT no Estado, e tende a votar a favor de uma aliança com Dilma. Tanto Coutinho quanto Capiberibe são membros da executiva nacional, da qual também faz parte João Capiberibe, pai de Camilo. O presidente nacional da sigla, Roberto Amaral, também é visto como um entrave ao apoio a Aécio, devido ao seu alinhamento histórico com o PT.
Na segunda-feira, uma reunião em Recife referendou o apoio ao PSDB, partido com o qual o PSB está coligado no Estado. A decisão teve o aval de Renata Campos, viúva de Eduardo. No dia seguinte, Marina recebeu em São Paulo a visita de nomes importantes do PSB pernambucano, como o governador João Lyra Neto, o presidente estadual da sigla, Sileno Guedes, o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, além dos eleitos Câmara e Bezerra Coelho. Durante o encontro, eles trataram do apoio a Aécio Neves, que ligou para os pessebistas na segunda-feira.
Rede - Marina encontra resistências também entre os membros da Rede Sustentabilidade, partido idealizado por ela que não conseguiu se registrar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na noite de terça, a executiva da Rede promoveu uma discussão sobre o apoio. Ao fim de quatro horas, o grupo chegou ao acordo de apenas dizer “não à continuidade do atual governo”. Um documento foi criado após as discussões e será encaminhado ao diretório da Rede, composto por 120 pessoas, que fará uma nova rodada de conversas na noite desta quarta. Walter Feldman, porta-voz nacional da Rede, admitiu que há resistência em apoiar o nome do tucano. “Nós queremos uma mudança, porém qualificada. Tem que dar substância ao nosso conteúdo”, afirma, indicando que é necessário haver sinalizações do tucano com o programa de governo apresentando por Marina. “A resistência vem, fundamentalmente, da estrutura de polarização. Alguns consideram que os ataques a Marina também foram muito pesados por parte do PSDB. E consideram que, do ponto de vista social, o PSDB não tem mostrado vigor em relação às políticas que a Rede considera necessárias. São questionamentos que dificultam a definição do apoio ao Aécio”, admite. 
O aliado de Marina deu sinais, contudo, de que o que deve prevalecer no pronunciamento de quinta é o desejo da ex-candidata. “Ela é, na verdade, uma candidata da coligação. Claro que ela tem uma origem na Rede, mas ela foi colocada como candidata da coligação e vai se pronunciar como tal”. Ainda que PSB e Rede optem pela neutralidade, é possível, portanto, que Marina declare apoio em uma posição individual. Aliados avaliam que manter-se neutra não seria a decisão política mais indicada para a ex-senadora. E, em seu discurso no domingo, Marina já deu sinais de que deve optar por Aécio.

Fonte: Veja

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