No segundo dia após as urnas de todo o país
proclamarem a necessidade de um segundo turno para que seja eleito o presidente
do Brasil, por mais quatro anos, Dilma busca recompor sua base de apoio, voto a
voto, com alegrias, como a declaração de voto do deputado Marcelo Freixo
(PSOL-RJ), e decepções, como a possível defecção do senador eleito Romário
(PSB-RJ) para o adversário Aécio Neves (PSDB).
Caso consiga passar pela barreira do
próximo dia 26 e seguir por mais quatro anos como inquilina do Palácio do
Planalto, Dilma terá uma vida mais fácil no Parlamento, com a formação da
maioria absoluta de cadeiras na Câmara (50% mais um, ou mais de 257 votos) nas
eleições de domingo. Juntos, os partidos da base aliada elegeram 304 deputados
federais.
Na outra ponta, a coligação de Aécio Neves
(PSDB) no primeiro turno elegeu 128 deputados. Ainda que PSB de Marina Silva
apoie, em peso, Aécio Neves no segundo turno e um eventual governo tucano, sua
base parlamentar chegaria a 180 deputados.
Mas a realidade está longe disso. Nesta
manhã, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), uma das coordenadoras da campanha de
Marina Silva à Presidência, propôs que o PSB libere o voto de seus filiados no
segundo turno das eleições. O partido resolverá a questão ainda esta semana,
mas Marina já sinalizou que pode declarar apoio ao tucano Aécio Neves.
– Há grupos no partido que querem Aécio
Neves, outros que pretendem apoiar a Dilma. Tomar uma posição única seria ruim,
dividiria o partido. O melhor seria liberar para que cada militante, filiado ou
dirigente, possa tomar a sua decisão – pondera a ex-prefeita de São Paulo.
Caso prevaleça a sugestão, Erundina
pretende manter-se neutra, sem declarar voto ao tucano ou à petista.
– Nós temos que ser minimamente coerentes.
Sem o que, não vale a pena. Nem Aécio nem Dilma. Nós não dissemos o tempo
inteiro, na campanha, que queríamos mudança? Não propúnhamos o tempo inteiro o
fim da polarização? – interroga.
Loteamento de cargos
A campanha do tucano Aécio Neves, porém,
não quer saber de neutralidade e pretende usar dos artifícios de que dispõe
para atrair os votos da ex-adversária. Segundo nota de um colunista do diário
conservador paulistano Folha de S. Paulo, Neves chegou a oferecer a Marina
Silva a titularidade do Ministério das Relações Exteriores, caso seja eleito
presidente. Segundo o jornalista Kennedy Alencar, “a ideia seria indicar Marina
para o Itamaraty a fim de que ela defenda uma ‘diplomacia verde”.
– Marina tem boa imagem internacional e
convergência com Aécio na mudança de alguns pontos da linha diplomática dos
governos do PT. Com Aécio e Marina, o Itamaraty daria menos foco ao Mercosul.
Tentaria negociar mais com os Estados Unidos e a União Europeia – disse
Alencar, em uma rádio carioca, nesta terça-feira.
Segundo o jornalista, as negociações para
que Marina apoie Aécio no segundo turno “têm avançado”. As divergências entre o
PSB e a Rede, diz ele, podem impedir uma posição partidária, mas Marina
“poderia dar suporte individual ao tucano”.
Novas pontes
Nesta manhã, o deputado estadual Marcelo
Freixo recebeu um telefonema de Dilma, em um gesto que demonstra a importância
com que a presidenta e seus estrategistas de campanha deram à adesão de Freixo
à candidatura petista. Campeão nas eleições do Rio para deputado estadual, com
350.408 de votos, Freixo é uma das marcas registradas do PSOL, assim como a
ex-presidenciável Luciana Genro o deputado federal baiano Jean Willys. Juntos,
eles compõem a chamada alma da agremiação e vão pedir votos para Dilma.
Para a direção do PT, o apoio de Freixo é
visto como um sinal da aproximação da legenda, formalmente, ao campo de Dilma.
Nas contas dos estrategistas do partido, a presidenta terá de conquistar 9
milhões de votos para vencer Aécio Neves nas urnas. Neste sentido, acreditam
que um posicionamento claro de Luciana poderá render a Dilma a grande maioria
do 1,4 milhão de votos que ela conseguiu no último domingo.
– Independentemente da posição que o
partido vier a tomar, eu votarei em Dilma nesse segundo turno. Não admito o
retrocesso que acredito que um governo tucano poderá representar – afirmou
Freixo.
Uma das pontes para chegar ao PSOL, segundo
estrategistas do PT, é o argumento de que Dilma não apenas não atacou Luciana
na campanha, como sua origem política na esquerda dos anos 1960/70 guarda
identidade com muitas bandeiras atuais do PSOL.
Aliança doméstica
No segundo turno estadual do Rio de
Janeiro, a se realizar também no próximo dia 26, o senador Marcelo Crivella
(PRB) recebeu, na manhã desta terça-feira, o apoio do deputado federal Anthony
Garotinho (PR), derrotado no primeiro turno das eleições para governador do
Rio. O acordo foi firmado em uma reunião de mais de uma hora, na residência de
Garotinho, em Campos, no norte do Estado. Segundo Crivella e Garotinho, eles
não falaram de cargos caso Crivella ganhe a eleição, apenas de propostas.
– Ele (Crivella) só me fez um pedido: que
ajude a livrar o Rio do grupo que fez tanto mal à população. E eu estou
atendendo com muito bom gosto – concluiu o ex-governador Anthony Garotinho.
Fonte:
Correio do Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário