sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Marina Silva não deverá declarar apoio ao tucano Aécio Neves

O esperado anúncio de Marina Silva em apoio à candidatura de Aécio Neves é improvável e não deve ocorrer. Pessoas próximas à ex-candidata do PSB à presidência da República garantem que ela não vai se posicionar a favor da candidatura do PSDB, como os tucanos esperavam, nem à de Dilma Rousseff. Na Rede Sustentabilidade há grande pressão de setores pró-Aécio para que a ex-ministra do Meio Ambiente defina sua posição. Um dos coordenadores da campanha de Marina e intitulado pela mídia “porta-voz” da Rede, o ex-tucano Walter Feldman é um dos que pressionam.
Mas vários integrantes da Rede estão trabalhando pela neutralidade, que passa pelo voto em branco e nulo. Para esse grupo, um apoio a Aécio Neves pode ser fatal ao futuro político de Marina. A demora na definição começa a incomodar os adeptos de Aécio. Esperava-se que Marina anunciasse sua posição ontem (9). Mas, em vez do anúncio, ela entregou uma “carta aberta” ao deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), com a defesa de pontos que considera fundamentais, como o fortalecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de fortalecimento de políticas voltadas aos "povos e comunidades tradicionais".
A troca do aguardado anúncio pró-Aécio pelo documento causou frustração na campanha aecista. Marina se encontrou com Fernando Henrique Cardoso na quarta-feira, e teria sinalizado ao ex-presidente que o apoio não virá. Segundo uma fonte muito próxima a Marina, “eles perceberam que dificilmente vão conseguir viabilizar esse apoio”. Um interlocutor de Marina diz que a intensidade da pressão dos tucanos na Rede está diminuindo. “Até para não terem que ouvir um ‘não’, o que seria um revés para eles.”
Uma declaração de Aécio Neves, também ontem, é um indicativo dessa frustração: "Não podemos parar nossa campanha à espera de novas manifestações”, afirmou, em referência a Marina.
Na segunda-feira (6), os dois maiores jornais do país saíram com manchetes quase idênticas, considerando certo o apoio de Marina a Aécio. “Houve uma grande pressão para se colocar na voz da Marina posições que não eram dela. Na sequência da eleição, órgãos de imprensa deram como certo que ela iria apoiar o Aécio como se fosse uma verdade, uma decisão pronta e acabada. Quem conhece a Marina sabe que ela não faria isso, não dessa forma pelo menos. E muito provavelmente ela não tomará essa decisão”, disse à RBA um integrante da Rede.
Há até quem defenda, na organização, o voto na petista Dilma Rousseff, mas a postura do PT em relação à candidata do PSB no primeiro turno praticamente inviabilizou qualquer ponte de possíveis contatos mais concretos e a defesa aberta dessa posição. Porém, isso está longe de significar que Marina vá apoiar Aécio.

O peso de seu posicionamento no segundo turno pode ser medido por uma pesquisa feita na segunda-feira com eleitores de Marina. Pouco mais de 60% desses eleitores tenderiam a votar em Aécio, 20% votariam em Dilma e 15% aguardam um posicionamento da ex-candidata. A importância da neutralidade é diretamente proporcional a esses 15%, que representam cerca de 3 milhões de votos.
Maioridade penal e PEC 215
Para os defensores da ideia de Marina não apoiar Aécio, a história da ex-ministra do Meio Ambiente é inconciliável com algumas propostas do tucano. A diminuição da maioridade penal, defendida por Aécio Neves durante sua campanha, e a PEC 215, encampada pela bancada ruralista, são dois pontos considerados intransponíveis pelos opositores do apoio ao tucano. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) é um dos apoiadores de Aécio. Ontem, Caiado disse que estará “maravilhosamente bem" ao lado de Marina.
A PEC 215 retira da Funai, do Ministério da Justiça e da Presidência da República a decisão sobre a demarcação das terras indígenas. A competência passa ao Congresso Nacional.
Além disso, eles entendem que muito da desidratação dos votos de Marina se deu no campo progressista, a partir da entrada no programa de governo de “uma série de pautas (principalmente econômicas) que nunca foram da Marina, não eram da Rede, não foram discutidas”. “Isso desgastou a Marina. Se ela apoia Aécio, vai ser a confirmação de um caminho que não é o dela”, argumenta a fonte.
A Rede não fechou questão em torno de um posicionamento consensual. No fim da tarde desta sexta-feira (10), o partido divulgou uma nota “em face de informações inverídicas ou imprecisas que têm circulado na imprensa”. Na nota, a Rede declara que “mantém a posição de considerar o voto de seus militantes em branco, nulo ou em Aécio Neves como legítimos”.
Segundo a entidade, nenhum dos projetos em disputa a representa. “A Rede esclarece ainda que não está negociando suas posições com a candidatura Aécio.” Afirma também que “a adesão da Rede à candidatura de Aécio Neves não está em questão”. E conclui afirmando reconhecer “a legitimidade de Marina Silva, como nossa ex-candidata, de se posicionar conforme sua consciência”.

Fonte: Rede Brasil

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