sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Presidente do PSB acusa ala do partido de traição em Pernambuco

O presidente interino do PSB, Roberto Amaral, criticou a ala pernambucana do partido em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo nesta sexta-feira (10). O socialista cita o presidente estadual do partido, Sileno Guedes, e o prefeito do Recife, Geraldo Julio, de não cumprirem um suposto acordo firmado que garantiria sua eleição ao comando nacional da legenda. Amaral diz que recebeu um e-mail dos dois confirmando o apoio, mas que hoje mudaram de ideia e “transformaram um compromisso em letra morta”.
Desde a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, no mês de agosto, Roberto Amaral assumiu o comando do partido interinamente. O socialista tentou, inclusive, antecipar a eleição da legenda, mas, a pedido de Renata Campos, adiou a disputa. Num primeiro momento, houve um consenso do partido em torno do seu nome, mas, recentemente, como antecipou o Diario nesta quinta-feira (9), parte da legenda, com apoio do PSB de Pernambuco, preferiu lançar uma “chapa de consenso”, excluindo Amaral do comando.
Pelo acordo atual, Carlos Siqueira seria eleito presidente, o governador eleito de Pernambuco Paulo Câmara seria o primeiro vice-presidente e o prefeito do Recife, Geraldo Julio, o secretário-geral. Na entrevista, Amaral ainda critica a aliança firmada pelo PSB, que declarou apoio à candidatura do senador mineiro Aécio Neves à Presidência da República neste segundo turno.
Confira a entrevista
Por que o senhor diz que o PSB de Pernambuco usa o estilo “coronelismo, enxada e voto”?
Essa é uma característica da classe dominante pernambucana. Mesmo quando o engenho vai à falência e o filho do dono do senhor do engenho vai morar em Boa Viagem (famosa avenida do Recife), ele continua ideologicamente senhor de engenho. Isso tem consequências em tudo. No seu relacionamento com as pessoas, com as coisas, com as instituições. Ele fica preso ao engenho que já se acabou. Volta às formas tradicionais de dominação, que determinam as formas tradicionais de fazer política. Isso está sendo levado à eleição do PSB. Esse é o perigo que eu aponto. Poderá marcar profundamente o partido.
Quem é que adota esse estilo? O presidente do partido no Estado, Sileno Guedes? O governador João Lyra? O prefeito Geraldo Júlio?
É a direção do PSB de Pernambuco. É uma máquina, não são as pessoas.
A viúva Renata Campos está nesse meio? A família de Campos também?
Não estão, não.
Como o senhor prova a afirmação que faz, então?
Tenho um e-mail do dia 27 de agosto assinado por Sileno Guedes, presidente do partido no Estado, e pelo prefeito Geraldo Júlio, dizendo que apoiam minha candidatura. Mas pela imprensa vejo que usam também o estilo “esqueçam o que escrevi” e saem notas dizendo que não vão respeitar o que eles mesmos escreveram. Fazem um compromisso e depois o transformam em letra morta.
Por que o senhor está sendo atacado?
De uns 15 dias para cá, começaram a aparecer notinhas nos jornais que tentam me reduzir a um agente da presidente Dilma Rousseff e a agente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa tentativa busca a minha desqualificação ética e ideológica, como se a disputa pela presidência do partido fosse uma disputa de pessoas, quando se trata de uma disputa entre uma visão de esquerda contra uma visão conservadora. Represento os companheiros de partido querem conservar o PSB na esquerda.
O senhor lutou para que o PSB mantivesse a independência no 2º turno da campanha presidencial. Como o senhor viu a decisão que levou o partido a apoiar o tucano Aécio Neves?
O que o PSB vive hoje foi muito bem traduzido na reunião de quarta-feira nas palavras do deputado Glauber Braga (RJ), de que com aquele ato nós estávamos traindo a história do partido. Em outras palavras, quando o Partido Socialista Brasileiro teve a oportunidade de avançar, de se preparar para construir uma proposta de socialismo para o século 21, ele optou pelo patriarcalismo, ou, se quisermos, pelo coronelismo.

Fonte: Diário de Pernambuco

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