* PIOR SALÁRIO DO BRASIL
Depois de uma campanha midiática em que o
governador Antonio Anastasia sugeriu que os professores em greve estavam
mentindo sobre os salários pagos a eles pelo governo de Minas Gerais, os
profissionais de Educação do estado decidiram publicar os contracheques e
encaminhar um kit-salário para os jornais e outros meios de comunicação do
estado.
Conversei com Beatriz Silva Cerqueira, a
Bia, do Sindicato Único dos Trabalhadores de Educação em Minas Gerais, o SINDUTE.
E, pelo que ela contou, existe um tremendo esqueleto no armário do atual
senador e provável candidato ao Planalto, Aécio Neves, esqueleto agora
administrado por Anastasia: o choque de gestão.
Mas, antes do esqueleto, a greve: a
paralisação atinge, por decisão da Justiça, apenas 50% dos 380 mil
trabalhadores em educação de Minas, em todas as regiões do estado. Ela
foi deflagrada, como a greve de Santa Catarina (onde os professores acreditam
ter obtido uma importante vitória política), para garantir a implementação do
Piso Salarial do Magistério, que é federal e foi considerado constitucional
pelo Supremo Tribunal Federal em abril deste ano (valor atual de R$ 1.187,00).
Hoje, em Minas, o professor que tem ensino
médio ganha R$ 369,00 mensais de salário inicial; o professor com licenciatura
plena, R$ 550,00.
Segundo Bia Cerqueira, este ano o governo
Anastasia, a partir de uma lei estadual, decidiu aglutinar todas as parcelas
que compõem o contracheque dos servidores em um subsídio, que os professores
rejeitam considerar como piso salarial, mas sim o total da remuneração.
A adoção do subsídio, segundo Bia, provoca
— entre outras coisas — o nivelamento da categoria entre os professores que tem
20 anos de carreira e os que estão começando agora. Uma situação parecida
aconteceu em Santa Catarina.
A greve é por um piso salarial de R$
1.597,00 para os professores de nível médio com jornada de 24 horas.
Bia Cerqueira diz que a política salarial
de Minas Gerais em relação aos professores é de “controle” da remuneração, o
que seria um dos princípios do “choque de gestão”, que começou a ser implantado
pelo ex-governador Aécio Neves. “Você pode demorar 8 anos para começar a receber
por uma pós-graduação que tenha feito, você pode demorar de 20 a 25 anos para
receber por um mestrado”, ela exemplifica.
“O governo controla a remuneração [dos
servidores] para que possa investir em outras áreas que dão retorno melhor para
ele”, disse ela, provavelmente se referindo a retorno eleitoral.
Bia inicialmente não entendeu a minha
piada: o choque de gestão, disse eu, teria sido de 220 volts, bem na veia do
professorado!
Aliás, ela acredita que o tal choque
fracassou redondamente. Três exemplos:
* Faltam 1,5 milhão de vagas no ensino
básico em Minas Gerais;
* A média de escolaridade do mineiro é de
7,2 anos;
* No vale do Jequitinhonha, a média de escolaridade
é de apenas 6,2 anos.
Além disso, o programa que é orgulho do
atual governador, Antonio Anastasia, o Professor da Família, para dar apoio a
alunos do ensino médio, é bastante precário.
* Por enquanto, atinge 9 dos 853 municípios
de Minas Gerais, ou apenas 22 das 4 mil (eu disse quatro mil) escolas;
* Os professores contratados para implementar
o programa, que visa dar aulas de reforço para alunos do ensino médio, têm
formação de ensino médio, o que contraria a Lei de Diretrizes Básicas da
Educação Nacional, que exige licenciatura plena.
“Os projetos não correspondem à realidade
do estado de Minas Gerais”, diz ela.
Duas grandes dificuldades enfrentadas neste
momento pelos grevistas: boicote ativo ou desprezo da mídia local e a postura
do Poder Judiciário de Minas Gerais que, segundo a Bia, nunca decide em favor
dos educadores.
Para ouvir a entrevista, clique abaixo:
Para acompanhar notícias da greve, vá ao
site do SINDUTE.
Ou ao blog da Bia Cerqueira, aqui.
Fonte:
Viomundo
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