O Sindicato Único dos Trabalhadores em
Educação de Minas Gerais divulgou uma carta aberta de repúdio ao presidenciável
Aécio Neves. O candidato do PSDB foi derrotado no primeiro turno em seu próprio
berço político, Minas Gerais.
No texto, intitulado O que Aécio fez
em Minas serve para o Brasil?, os professores comentam as irresponsabilidades
gerenciais de Aécio no período em que foi governador, transformando Minas no
Estado mais endividado do Brasil.
Os profissionais de educação citam ainda as
práticas autoritárias do tucano com diversas categorias de trabalhadores; tudo
com o apoio dos veículos de comunicação, do Tribunal de Contas e do Ministério
Público Estadual – órgãos que foram aparelhados e lhe eram subservientes. Leia
abaixo a nota de repúdio.
O que Aécio fez em Minas serve para o
Brasil?
A ideia de uma gestão pública que seja
eficiente e que cuida dos seus cidadãos é o que todos almejamos. Foi isso,
entre tantas bandeiras, cartazes e palavras de ordem, que as manifestações de
junho de 2013 pediram: que o Estado se materialize na vida das pessoas com
políticas públicas e serviços de qualidade.
Ouvindo o discurso do candidato à
presidência da República Aécio Neves, parece ser ele o que representaria essa
eficiência de gestão e o cuidado com as pessoas. Mas a boa política se faz com
o que se pratica, não com peças publicitárias. Então, é necessário discutirmos
se o que o Aécio fez em Minas serve para o país.
Quando foi eleito governador, Aécio,
imediatamente, pediu à Assembleia Legislativa, autorização para fazer leis
delegadas (que não precisam ser aprovadas pelos deputados estaduais). Durante o
seu mandato foram 110 leis delegadas. O seu antecessor, Itamar Franco, assinou
em todo o mandato oito leis delegadas. Mas o que isso tem a ver com o cidadão
comum?
As mudanças na estrutura do Estado e seus
impactos não foram discutidos com ninguém. E a forma de gestão vai definir
quais são suas prioridades. Serve para o Brasil um Presidente que tem como
estilo governar sem o Congresso Nacional?
Ao assumir, ele promoveu o choque de
gestão, com a ideia de que o Estado deveria gastar menos com a máquina
administrativa e mais com as pessoas, e que o Estado equilibraria as suas
contas. Após 12 anos, o saldo é extremamente negativo. O Estado não cuidou das
pessoas, temos problemas estruturais nas áreas de saúde, educação e segurança
pública, não temos políticas que cuidam da nossa juventude, que combatam a
violência, as drogas e que promovam a educação e o ingresso no mercado de
trabalho. Os programas do governo mineiro têm duas características: são
programas de vitrine que não atingem a maioria dos municípios, ou são programas
do governo federal que, aqui em Minas, mudam de nome.
Somos o segundo estado mais endividado do
país e, ao longo dos anos, a política de novos empréstimos comprometeu para
2015 a capacidade de investimento do Estado. O choque de gestão não trouxe mais
eficiência ao governo. Ao contrário, cuidou pouco das pessoas e endividou o
Estado.
E o que dizer de um governante que, usando
a máquina e o dinheiro do Estado, construiu uma hegemonia que beira ao estado
de exceção? Aqui em Minas, a maioria dos deputados estaduais, do Tribunal de
Contas, dos donos dos meios de comunicação, do Ministério Público Estadual não
atuam de modo autônomo em relação ao governo do Estado, mas têm uma relação de
subserviência. É isso que queremos para o Brasil?
As áreas de saúde, educação e segurança
pública não tiveram, nos últimos 12 anos, os investimentos e políticas
necessárias para o bom atendimento à população. O governo do PSDB deixou de
investir mais de R$8 bilhões em saúde e outros R$8 bilhões em educação. Isso
porque não cumpriu a Constituição Federal, que estabelece o mínimo de
investimento de 12% de impostos em saúde e 25% em educação. Em 2003, Aécio
investiu 22,84% em educação, em 2004 investiu 21,69%, em 2005 investiu 21,34%,
em 2006 investiu 18,66%, em 2007 investiu 18,73%, em 2008 investiu 20,97%, em
2009 investiu 20,28% e em 2010 investiu 19,97%.
Os números de Minas Gerais, disponíveis no
Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado, são diferentes da fala do
candidato: 45,6% dos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental têm nível
recomendável de desempenho em língua portuguesa; 60% dos alunos do 5º ano do
Ensino Fundamental têm nível recomendável de desempenho em matemática; 34% dos
alunos do 9º ano do Ensino Fundamental têm nível recomendável de desempenho em
língua portuguesa; 23,2% dos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental têm nível
recomendável de desempenho em matemática; a escolaridade média da população
mineira com 25anos ou mais é de 7 anos.
O projeto Escola de Tempo Integral
beneficiou 105 mil alunos num universo de 2.238.620. Em 2010, faltavam
1.011.735 de vagas no Ensino Médio. Temos uma das contas de luz mais caras do
país. Pagamos de ICMS 43% do valor que consumimos. E 100% do lucro vão para os
acionistas da Cemig e não para a melhoria dos serviços prestados à população.
Temos problemas com a manutenção da rede de distribuição de energia, foi
constatado pelo Ministério Público do Trabalho, trabalho escravo a serviço da
Cemig e a cada 45 dias morre um trabalhador a serviço da empresa.
Em Minas foi construído o primeiro presídio
de parceria público-privada. E o Estado repassa, à iniciativa privada, valor
mensal por preso mais do que paga a um professor.
E quando vejo o candidato posar para fotos
ao lado de centrais sindicais e sindicalistas de direita, afirmando que quer
conversar com trabalhador, me pergunto de onde este candidato veio, porque em
Minas, não conversou conosco. As greves dos servidores públicos são frequentes
e longas, com raros momentos de diálogos. O Sindicato Único dos Trabalhadores
em Educação de Minas Gerais, que representa mais de 400 mil educadores, nunca
foi recebido pelo candidato enquanto era governador. Somos o único estado do
sudeste que não tem salário mínimo regional.
Não tenho dúvidas de que, quem quer
eficiência de gestão e um governo que cuida das pessoas, não vota em Aécio
Neves. O que Aécio fez em Minas não serve para o Brasil.
Beatriz Cerqueira
Profª e Coord-geral
do SINDUTE/MG
Fonte:
Portal Metrópole
Nenhum comentário:
Postar um comentário